sexta-feira, 31 de julho de 2015

Foto do dia



Deixo-vos hoje mais algumas fotos!

Um bem haja a todos vocês.

Amanhã volto com mais uma história...

Boa sexta feira!


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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Estados de Alma II




Hoje deixo-vos com um excerto do Poema "Monólogo e Explicação", de Francisco Assis Pacheco (1937-1995), Poeta e Jornalista que, assim como eu, viveu os terrores da Guerra.

Bem haja a todos!



"Dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.

Dizem que a guerra passa: esta minha passou-me para os ossos e não sai."

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Alfaiate


O texto que se segue é do Francisco António Esteves – O Chico
1º Cabo 2524

Bem haja a todos!



No Golungo Alto, enquanto alguns de nós tirava carta de condução, um nosso militar que era conhecido como “alfaiate”, para fazer jus ao que fazia na vida civil, arranjou conhecimento com um senhor – também ele alfaiate – ali estabelecido e que deixou que o nosso fizesse alguns biscates para ele.


O tempo ia decorrendo normalmente, sem qualquer incidente…


O patrão alfaiate tinha esposa, cabrita, bonita e, como se costuma dizer, “O lume ao pé da estopa, vai o diabo e sopra”. Ora o empregado alfaiate, na ausência do patrão, ia “dando uns pontos noutra fazenda” e, “tantas vezes o cântaro vai à fonte, que um dia deixa lá a asa”, foi surpreendido pelo patrão!
Ainda ele tentou desmentir tudo, mas de nada valeu.

O empregado ainda lhe disse: 

“Eu não lhe ia fazer tal desconsideração e além disso, depois de comer isso faz mal!”


O patrão, retrucando-lhe disse: 

“Oh homem, cale-se lá com isso que eu tenho feito algumas vezes e nunca me aconteceu nada!”



O empregado lá ficou com o recado, mas o biscate, esse, foi-se!


terça-feira, 28 de julho de 2015

Os Convívios da CART. 422



Foto de um dos muitos convívios que temos tido ao longo dos anos, com a CART.422!

Este foi na Costa de Caparica.

Bem haja a todos!

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segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Striptease do Pirolito!

O texto que se segue é do Francisco António Esteves - Chico
1º Cabo 2524

Bem haja a todos!
Boa semana!


"Em determinado dia fomos ao Quitexe buscar o correio. 
No regresso, ao chegarmos à Baixa de Negage, deparamos-nos com um tiroteio cerrado.

Perante a instrução que tivemos, nesta situação saltamos das viaturas para as bermas da estrada e em posição de fogo, mandaram-se umas rajadas e a coisa acalmou.

Era um carro dos voluntários que estava a ser atacado.

Só que o pirolito, o condutor, caiu em cima de um formigueiro daquelas formigas que parece que têm uns alicates no focinho...


Nós na "festa" e o condutor a tirar a roupa!

É que elas mordem mesmo!"


domingo, 26 de julho de 2015

"As viagens do Tono Clarim" - em sua memória


Mais uma para hoje!

Existem em todos os lugares, aquele tipo de pessoas que se diz muito viajada, que conhecem Portugal de lés a lés e que já viajaram os 4 cantos do mundo!

Bem... Na CART.422 não era diferente.
Havia gente que dizia que conhecia Portugal de Norte a Sul, mencionando nomes de cidades entre o Minho e o Algarve.

E as conversas iam andando assim. Com cada um a dizer a outro que já tinha viajado mais do que todos!

Numa destas conversas, O Tono Clarim, com o seu bom humor Alentejano, disse que ninguém tinha viajado mais do que ele.

- Tu?!?! - perguntavam os outros. - Então diz lá o que conheces!

E o Clarim, num tom de "gente que tudo sabe", pôs-se a dizer o nome de todas as ruas, ruinhas e ruelas da sua ODEMIRA que tanto amava!

Clarim! 


Gente simples... 

Gente boa... 

       GRANDE AMIGO!


A Pacaça! - em memória do António Maio


Esta é mais uma das minhas MUITAS recordações!

Bom domingo a todos.

Ao voltarmos para Zalala de uma das nossas saídas de rotina para os lados do Quijoão, com o pelotão do Alferes Correia avistamos, ao longe, um vulto a atravessar a picada. 

Claro que ficamos um pouco assustados, mas lá tivemos que ir ver o que seria.

Resultado: era a PACAÇA!



Tínhamos que a abater... Era uma maneira para a 422 ter carne sem custos durante algum tempo!

O autor do tiro certeiro foi o António Maio, que depois da peripécia ficou conhecido como "Maio - o Pacaça"

Bem haja a todos!

sábado, 25 de julho de 2015

Promoção do Costa a CABO



O Costa queria ser cabo. E tanto queria que estava sempre a falar sobre quando seria promovido. Tinha longas conversas com o Tono "Clarim" e o assunto era quase sempre o mesmo.

Depois de muitas conservas que todos ouvíamos entre uns e outros, decidimos então promovê-lo.

Mas promovê-lo a quê?

Como o Costa ajudava na cozinha e sempre que era preciso era ele que ia à lenha (sempre com escolta) e não admitia que ninguém pegasse no serrote ou no machado para serrar ou cortar lenha, resolvemos promover o Costa a CABO DA LENHA!

A cerimónia realizou-se na caserna de baixo e não me recordo se estavam presentes alguns oficiais ou sargentos.

Recordo, isso sim, que no final da cerimónia ouve celebração com direito a vinho (que na verdade era mais água que o dito) e que o garrafão foi-nos oferecido pelo furriel Bouçon.

Este garrafão foi "multiplicado" por 5! E como diz o velho ditado:

"Enquanto houver água, o vinho não acaba!"

Bem haja a todos!

Bom Sábado.


OBS: As divisas do 1º Cabo pertenciam ao António Maio. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Foto de hoje - "A Caminho de S. José do Encoge!"



Deixo-vos hoje com uma foto!

Um bem haja a todos vocês.

Boa sexta Feira!

Amanhã volto com mais uma história.

Dizem que o meu neto Samuel é a minha cara... Eu também acho!

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Jornal de 07-08-1965




Um bem haja a todos que me visitam!

Abraço especial para os que cumpriram missão comigo, especialmente à minha Companhia de Artilharia, a C.ART 422!

Bravos e Sempre Leais!

terça-feira, 21 de julho de 2015

Estados de Alma...







E nós, combatentes e detestados,

estamos a comer o pó do sertão,

enquanto caminhamos sufocados

até ao derradeiro golpe de mão!


(Quibaxe)

Joaquim Coelho

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A cama!


O texto que se segue é meu
1º Cabo 2625 - Aires de Azevedo e Sousa
O meu bem haja a todos e em especial ao protagonista da história de hoje!

Tínhamos saído do Campo de Grafanil, em Luanda, bem cedo... 

Andamos cerca de 200 Km e só chegamos a Vista Alegre para pernoitar era já noite dentro. 

O tempo estava chuvoso, a noite era escura e o nosso cansaço era visível!

Tínhamos que montar as tendas onde íamos dormir e, sinceramente, dormir era tudo o que eu queria! Eu e todos!

Sempre que chegávamos a um aquartelamento diferente, apareciam militares a perguntar se havia alguém da suas terras! Nesse dia não foi diferente... 

Ouvi uma voz perguntar se havia alguém de Santa Maria da feira. 

Respondi logo: "EU!" - "Eu sou de Paços de Brandão!". E ele chegou-se a mim. Perguntou-me como me chamava e eu respondi. O diálogo que tivemos foi o seguinte:

- Eu sou o Aires. Sou de Paços de Brandão!
- Oh Aires! Não me conheces? Eu sou o Simão. Filho do Tarene! Hoje fica descansado que dormes na minha cama!
- E tu Simão, dormes onde?
- Não te preocupes com isso, Aires. Hoje a minha cama é tua!

Não me lembro se nos abraçamos ou não... Só sei que o gesto que ele teve comigo, eu vou levar pró resto da minha vida!

Nunca vou esquecer!

Obrigado grande Simão!

"Os pequenos gestos de hoje, são as lembranças eternas de amanhã!"



sábado, 18 de julho de 2015

Os tachos e as panelas do Ruas.


Este texto é meu!
1º Cabo 2625 - Aires de Azevedo e Sousa

Antes de partirmos para Angola.

Histórias da RAP2 (Pesada 2)

Um dos exercícios que éramos obrigados a fazer, era atravessar uma piscina, numa altura de +- 10 metros, através de um cabo suspenso, que era movido por slide.

Quando chegou a vez do Cabo Ruas (mais conhecido por 1º Cabo Cozinheiro), ter que fazer este exercício, ele caiu à piscina. Como não sabia nadar teve algumas dificuldades e não queria ter que repetir.

Nessa altura, o Alferes Brito virou-se 'pró Ruas dizendo:

- Oh Militar, então você tem medo de fazer a travessia uma 2ª vez? Então eu só quero ver quando você chegar a Angola e tiver que atravessar aqueles rios largos com os tachos e as panelas às costas!

Um abraço para todos!

Aires de Azevedo e Sousa


sexta-feira, 17 de julho de 2015

A Lei da sobrevivência!


O texto que se segue é do meu Alferes Ângelo

O meu bem haja a todos!

Batida de 6 dias - Zona do Quipedro

"Estaríamos em Janeiro de 1964 e, por ordens de Luanda, com a intervenção do batalhão a que pertencíamos, planeou-se uma batida de 6 dias para a zona do Quipedro, que já não fazia parte da área de intervenção da nossa companhia. Era como que uma zona de "ninguém", pois, suponho, até aí nunca deveria ter havido nenhuma operação planeada para aquelas paragens desde o início da Guerra em Angola. Pelo menos a partir do Quijoão, por onde se entraria.

Veio do Sul (Nova Lisboa?!?!) um pelotão de naturais de Angola, comandados por um alferes branco, que se integrou na 422 nessa operação. O meu pelotão foi escalado para ir nesta batida, que era comanda pelo nosso Capitão Vila-Chã. Como iria durar bastantes dias, o médico da companhia, Dr. Rodrigues Alves, também foi "convidado" a participar.

E foi!

Lembro-me que na noite do início da         operação, nos foi servido um jantar de primeira qualidade, com bacalhau cozido com todos e vinho. Ao que parece, o vinho era à descrição, pois houve quem "abusasse" dele.

Andamos dois dias praticamente só em mata, sem que nada de anormal acontecesse, até que o 1º Cabo Carvalho (o 2329) do meu pelotão começou a ficar doente, com princípios de paludismo. 

Era que o que parecia. 

Dizia que era impossível continuar naquelas condições por mais 4 dias, sempre a andar e com chuva. Ainda tentamos pedir um helicóptero por rádio, para ser evacuado, mas não conseguimos contactar com ninguém.

Decidiu-se então que, para não abortar a operação, teria que regressar ao Quijoão e aí pedir por rádio ao Zalala para o irem buscar.

Com o 2329 vieram uns 12 homens, chefiados pelo Sargento Rui, que não tiveram quaisquer tipo de problemas no regresso.

Mais tarde veio a saber-se que a razão principal do mal estar do 2329, teria sido o excesso de bebida à noite da partida, mais o que levava no cantil, que em vez de água era vinho!...

O resto do pessoal lá seguiu em frente e a paisagem começou a mudar. Aparecia mata mas também grandes extensões de capim.

Numa pequena lavra de mandioca, matou-se o 1º "turra"... Não me recordo ao certo como foi, porque nessa altura era o pelotão africano que ia à frente.

Continuamos... Lembro-me bem das dificuldades do percurso, quase sempre a corta mato, da chuva que caía com bastante frequência e termos de dormir assim, enrolados nos impermeáveis, praticamente todos molhados... Mas o cansaço ao fim de 4 dias já era tanto, que dormíamos de qualquer maneira!

Queimámos algumas cubatas que encontramos noutra lavra de mandioca e mais adiante, no mesmo dia, ao longe, a meio de um morro, vimos outro "turra". 

Começamos a disparar, qual tiro ao alvo, mas ninguém acertava. Decidi mandar uma Secção (a do Sargento Bento da Silva) atravessar um riacho que passava no vale e separava os dois morros para ver se o apanhavam.

E assim foi.

Viram-no. Chamaram-no dizendo que não lhe faziam mal. Estava armado só com uma catana. Quem se aproximou mais foi o Vitória (2829), para ver se o fazia prisioneiro.

Só que, por medo ou orgulho, levantou a catana ao 2829 e este não teve outro remédio senão dar-lhe um tiro, matando-o.

Todos estes tiros foram ouvidos pelo inimigo que estava na zona e, passadas 1 ou 2 horas, tivemos contra nós fogo de armas ligeiras.

Subimos para o alto de um morro e daí fazíamos fogo uns contra os outros, mas a uma distância razoável, sem que víssemos alguém. Começava a ficar tarde e decidiu-se que o melhor era sair dali antes de anoitecer, o que já estava para breve. Enquanto uns se iam retirando, outros ficaram a "entreter" os "turras" com uns tiros de vez em quando. Fui dos últimos a sair. Vi um agrupamento de soldados inimigos a progredir ao morro onde estávamos. Via-se que tinham instrução militar pela progressão que estavam a fazer no terreno. Talvez até pensassem que já lá não estaria ninguém, pois tinham visto perfeitamente a retirada dos primeiros, dado que era tudo capim.

Acabei por não esperar o tempo suficiente de se aproximarem muito mais, embora pudéssemos eventualmente ter abatido alguns que ficassem mais perto de nós, mas a noite estava a cair e podíamos perder-nos uns dos outros.

O "Viseu" levantou-se e, virado para onde eles vinham, disparou os últimos tiros, chamando-os de quantos nomes se lembrou na altura e fomos embora.

Não fazemos ideia se fizemos baixas ou não. Sabemos que a nós nada aconteceu.

Já no último dia e a entrar para a mata que antecede a do o Quijoão, cuja picada andámos um tempo a tentar arranjar para que pudessem passar viaturas. Era uma mata muito densa e por isso fácil de se montar uma emboscada.

Foi ali que se deu um facto que na altura me marcou e nunca hei-de esquecer.

Connosco iam bastantes carregadores nativos, para transportarem munições e rações de combate.

O nosso médico, com quem estava sempre que possível, já ia fisicamente em baixo, pois não estava habituado a andar tanto. Estávamos nós, quanto mais ele...

Quando já íamos na mata e podia tornar-se mais perigoso, tive o cuidado de me aproximar mais do Doutor, para ver como ia e se estava enquadrado entre os militares. Como ele vinha mais atrás, fui-me deixando ficar para ver se o via. Passaram por mim uns tantos e a certa altura não aparecia mais ninguém. Passou-se um bocado e estava já eu sozinho, sem ver ninguém à minha frente ou atrás de mim...

Perdemos o Doutor... Pensei! Mas entretanto ele lá apareceu, à frente dos carregadores, que eram bastantes, sem que ninguém daquela gente tivesse uma arma sequer.

Se tivesse havido ali "barulho, havia de ser lindo, havia...

Lá voltamos a andar e os da frente, ao ver que ninguém vinha lá pararam e foi rápido voltarmos a estar todos juntos outros vez.

Claro está que dei uma rabecada ao militar que ia à frente do médico para que NUNCA mais o perdesse de vista.

Chegamos sãos e salvos ao Quijoão!

E assim foram passados mais 6 dias da nossa vida em Angola!"






quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Sr. Pascoal e família


O texto que se segue é do Meu Capitão João Vila-Chã
O texto foi escrito há 15 anos!

O meu bem haja a todos!

"Há trinta e cinco anos atrás, Região dos Dembos, Mussungo, ali próximo da Cerca.

Manhã de Novembro de 1964, ao Domingo.

Como habitual, aparecem as lavadeiras, garotada nativa, adolescentes e crescidos que procuram o Senhor Doutor (o nosso querido Dr. Joaquim Rodrigues Alves) a quem pagam a consulta oferecendo um ovo. 

Os doentes são tantos que o comandante da CART. 422 determina que passem a pagar dois ovos. 

Nem assim se conseguiu reduzir a frequência das consultas.

E passaram a trazer as galinhas!

Entre os consulentes destaca-se o Sécula (velho) Pascoal, normalmente acompanhado por aquela belezinha africana, que ficou conhecida por "Minina Ângila", com história bonita de contar.

Todos apreciamos os seus dotes estéticos, mas, "pensamos nós de que", só algum terá sido prendado com os seus amores.

Já esquecia a vinda da figura mais importante para esta pequena história, verdadeira, a mãe do Sr. Pascoal,, Bisavó da "Minina".

Trata-se de acontecimento simples, mas que abona de virtudes do soldado português que fomos. Porque quanto a defeitos, é história para outros contos.

Conversava o Capitão da CART. 422 com o Sr. Pascoal, homem de setenta e cinco anos, bom interlocutor, com considerável preparação, que lhe permitia falar fluentemente sobre a história de Portugal e dos costumes africanos, servindo, ao mesmo tempo, de intérprete de sua mãe.

A certa altura da conversa, quis o Capitão saber porquê, entre os nomes das localidades, aparecia a designação do cruzamento de picadas da Trombeta.

Era ali onde, no meio da floresta, quem seguisse de Mussungo para Golungo Alto, poderia desviar à direita, para a Serração da fazenda da Beira Alta, na direcção de Maria Teresa e Luanda.

Foi então que o Sécula Pascoal contou que, nesse cruzamento, ecoou a trombeta lusitana quando, perante a população nativa da região, foram solenemente executados por fuzilamento, um alferes e um cabo brancos. 

O famoso e implacável Capitão João de Almeida, comandante das forças de ocupação dos Dembos, que ali próximo se havia implantado no princípio do século, num forte conhecido pelo seu nome. 

Havia sentenciado com condenação à morte os dois militares, por terem cometidos crimes de violação de raparigas nativas.

Era assim no princípio do século XX.

Quando o comandante da CART. 422 se dirigiu à Mãe do Sr. Pacoal, perguntando-lhe se ouvira falar do Capitão João de Almeida, e se conhecia a história que o filho contara, a velhinha negra (olhos encovados, cabelos brancos de neve, pele curtida pela idade), ajoelhando-se, levantou as mãos em atitude de louvor a Deus e soltou uma lágrima...

Penso que de gratidão, também, para com os militares da CART. 422.

Valeu a pena!

Com a lágrima de saudade da velhinha, um abraço do vosso capitão do fim do Século XX,

João Vila-Chã"

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sorte de Cabra




O texto que se segue é do meu Capitão João Vila-Chã.
O meu bem haja a todos!



Estávamos em Zalala, finais de 1963, em últimos preparativos para uma operação de grande envergadura do Vale do Rio Vamba, com duração de vários dias.

À CART. 422 fora atribuída a missão mais arriscada, exigindo a mobilização máxima da sua capacidade operacional. Vivia-se uma atmosfera preocupante, porque não dizê-lo, um ambiente de "cagaço", sobretudo por parte dos responsáveis pelo planeamento, mais conhecedores dos perigos e resistências a vencer.

Da defesa do aquartelamento, chefiada pelo 1º Sargento Veiga e Furriel Vaguemestre Bouçon, cuidariam os cozinheiros, mecânicos e os operacionalmente incapazes. Nem o médico, Dr. Joaquim Alves, foi poupado. Teve que seguir para operação, desta vez na mata e não no hospital. E foi assim que o famoso Costa teve oportunidade de fazer uma guarda, de noite, no posto de sentinela da porta de armas, próximo das bananeiras, ao lado do campo de futebol que, por se tratar de um espaço mais aberto e com a vantagem de uma noite de luar transparente, via-se a grande distância.

Enquanto os operacionais tentavam adormecer, fugindo aos maus pressentimentos da guerra, ouve-se um disparo de arma estranha aos nossos ouvidos. O Capitão levanta-se em sobressalto, corre na direcção da detonação. Certamente que os terroristas - mais tarde guerrilheiros - talvez tivessem entrado no nosso segredo operacional e estariam a criar problemas de movimentação à coluna militar que se preparava para sair dentro de duas horas.

Já perto do Costa, O Furriel Bouçon procurava serenar os ânimos. O Capitão inquiria o sentinela Costa sobre a situação.

O diálogo foi o seguinte:

Capitão - Que se passa Costa?
Costa - Ela vinha na minha direcção e atravessou a ponte. E eu disse: "Quem vem lá, faça alto!", e ela não parou.
Capitão - E depois?
Costa - E depois fiz como o nosso Furriel mandou: "Quem vem lá faça alto, uma; Quem vem lá faça alto, duas; Quem vem lá faça alto, três. Se não paras, atiro!" Como já estava perto de mim, pumba! E ela fugiu para o meio das bananeiras. Eu só tinha a bala que o nosso Furriel tinha metido na "Mauser".
Capitão - E ela estava armada? Como estava vestida?
Costa - A cabra vestida... Era bonito!
Capitão - Então Costa, tu...!
Costa - Então, eu sou o 1º Cabo Miliciano Furriel da Lenha, não admito brincadeiras e não é a cabra que brinca comigo!

Assim, e mais uma vez, se safou a cabra da CART. 422. E foi assim que o Costa fez entrar nas conversas de caserna a famosa situação de "Sorte de Cabra".

Para todos, um abraço do vosso Capitão João Vila-Chã.

domingo, 12 de julho de 2015

Quem não se lembra deste navio?



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O que é ser da 422



O texto que se segue é do meu Alferes Ângelo. 
Um bem haja a todos!

"E tudo teve início na chamada "Pesada 2" em Vila Nova de Gaia, onde se juntaram uns 160 homens, oriundos do Minho ao Algarve, mas com uma percentagem muito maior do norte de Portugal.

Estávamos no final do ano de 1962.

Quase todos estavam na casa dos 20/21 anos, excepto alguns oficiais e sargentos, que eram mais velhos.

Gente jovem, portanto, que ainda não estava formada para enfrentar os perigos da guerra.

Em Abril, quando partimos para Angola, pode dizer-se que estavam bem melhor preparados, física e psicologicamente, pois a instrução a que foram submetidos foi de grande dureza, dado que os alferes e o capitão tinham passado pelo melhor que havia na altura, em termos de instrução de guerrilha.
Começou ali, em Vila Nova de Gaia, o que podemos chamar o primeiro contacto com um cenário de guerra.
Com certeza que à medida que chegava a hora da partida para Angola, os receios e os medos do que se iria encontrar, aumentavam.
Não há dúvida que até ali, tirando um caso ou outro, a Amizade entre todos era ainda reduzida.
Na travessia do Atlântico, no Vera Cruz, passaram-se dias maravilhosos, relaxantes, onde deu pra ver, naquela imensidão de água, o quanto o Homem é pequeno, comparado com a Natureza.
Vieram depois os locais onde se travava a guerra e tudo o que "ela" envolvia, com uma tensão nervosa permanente, quer nos aquartelamentos por onde passámos, quer na mata, no capim, nos morros ou nas estradas a pensar nas minas e emboscadas.
Todo este stress, que ao mesmo tempo que nos dava cabo do sistema nervoso, também nos ajudou a crescer como Homens, pois tivemos que enfrentar e vencer os medos, os perigos, as fraquezas, a sede e a fome.
E sabíamos, todos sabíamos, que podíamos sempre contar com os nossos companheiros do lado, da frente, ou de trás, para o que fosse preciso fazer, sem nada pedir em troca.
Quantas vezes bastava a coragem ou o sacrifício de um para que todos à volta ganhassem a confiança que parecia ter desaparecido naquele momento.

RESUMINDO:

  • Se foste mobilizado pelo RAP 2;
  • Se foste no "Vera Cruz" em 10/04/1963 e regressaste no mesmo navio em 27/07/1965;
  • Se andaste pelas picadas do Zalala-Quijoão-Mata dos Dembos-Baixa do Mugage e tantas outras;
  • Se ias ao reabastecimento a Quitexe e a Carmona e vinhas de regresso a Zalala, com "uns copos";
  • Se "visitavas" as Sanzalas por onde estivemos aquartelados;
  • Se assististe a apanhar montes de peixes do rio, pelo nosso médico, com uma cana de pesca chamada "granada";
  • Se tiveste medo, mas foste capaz de vencê-lo e se das fraquezas criaste força para sempre;
  • Se deste grupo fizeste AMIGOS verdadeiros para toda a vida, então podes dizer e gritar com orgulho que pertenceste à CART 422."

"DITOSA PÁTRIA QUE TAIS FILHOS TEVE" 




Fotos tiradas no Zalala
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quinta-feira, 9 de julho de 2015

10 de Abril de 1963

Esta foi a data em que partimos rumo a Angola...
Não sabíamos o que nos esperava e, muito menos sabíamos o que estava por vir.




É aqui que vamos relatar os 2 anos passados em Angola.

Um abraço para todos!