terça-feira, 1 de setembro de 2015

O Plastic


Boa tarde a todos.

O texto de hoje é meu.

Em memória de José Albuquerque, o Faísca!

Abraço do vosso amigo Aires - 1º Cabo 2625



Nas viagens que a CART.422 fazia ao Quitexe, tanto para se reabastecer de géneros como para receber a correspondência, aproveitávamos para vermos vários amigos militares de outras companhias que lá se deslocavam com o mesmo propósito e eu, particularmente, para rever o Lourenço do Ricardo e o Afonso Malta, ambos pertencentes à CART.421, bem como muitos outros das freguesias vizinhas da minha aldeia.

Numa dessas viagens, o Lourenço disse-me que tinha uma novidade! Tinha lá encontrado o José Albuquerque, ciclista vencedor da Volta a Portugal em Bicicleta, que era mais conhecido por Faísca.

- Onde está ele?!?! - Perguntei com curiosidade.

O Lourenço levou-me a conhecer a celebridade no restaurante do "Gomes", que era onde comíamos e bebíamos até ficar "bem saciados".

Entramos e lá estava ele! Homem alto, corpo franzino, mas rijo como um cepo!

Metemos conversa...

Perguntei-lhe o que fazia em Angola e quais os motivos que o levaram a imigrar. A resposta não foi muito diferente das dos tempos de hoje. Que em Portugal a vida estava muito má e que não havia emprego e que com o ciclismo, em termos monetários, pouco ou nada tinha ganho.

Disse-me também que era tractorista na Junta Autónoma de Estradas Angolanas.

Perguntei-lhe então se não tinha medo de andar a abrir estradas em Zonas de Guerra.

- Tenho receio, sim. Não dos tiros porque ando sempre escoltado por militares, mas sim do Plastic!

- Plastic?!?! Mas que raio é isso?!?! - Perguntei.

- São as minas anti-carro - disse ele - já vi vários camiões andarem pelos ares! Maltido Plastic! - rematou o Faísca.

Depois desse dia, todas as vezes que ía ao Quitexe procurava o amigo Faísca! Bebíamos umas cervejas e conversávamos muito! Sentia da parte dele que me considerava um amigo também!

Quando a CART.422 deixou a zona de Zalala, despedi-me dele com uma lágrima no canto do olho.

Sempre que penso nele lembro-me daquela frase: Maldito Plastic!

Nunca mais o vi... 

Sei que faleceu na década de 80 em Mangualde, sua terra Natal, vítima de atropelamento.


Espero que estejas em PAZ amigo Faísca!




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